quarta-feira, março 28, 2007

Abreviado

E foi Breve, um Brevemente Abreviado por quem se quer demorar na Brevidade do momento.

domingo, março 25, 2007

Do meu Ombro

Escapas do meu ombro, em quarto crescente fazes nascer os suspiros mais sonoros, tornas a respiração mais profunda e soltas o calor que faz as "senhoras" apertar as pernas roçando o nylon que sobe até as coxas e, numa atitude dissimulada, limpar a gota de suor que escorre por entre o peito e mancha a camisa de cetim que por instantes, parece demasiado apertada.
Rodas, sem formar um círculo contínuo, rodas só porque tem de ser, porque também os dedos rodam nas bocas e fazes salivar sempre mais, bocas sedentas do Ópio nocturno que conferes a quem te olha.
No final da noite, quando fica no céu a ultima estrela da madrugada, aninhas-te no meu ombro, como quem procura o aconchego quente, mas sabe, que logo logo estará de partida outra vez.


Foges do meu ombro e vejo-te assim, da minha janela...

sexta-feira, março 23, 2007

Pó(de)ser de mim...

Da superfície incipientmente desbravada do mim que sou, ou do eu que tenho de ser.

Po(de)ser que sim, (po)de(ser) que não!



terça-feira, março 20, 2007

Os lugares de Maria

(...)
Como tinha o Espaço e o Tempo arrumados dentro de caixas, era fácil deslocar-se com os seus mundos.
Foi assim que as caixas, umas maiores outras mais pequenas umas mais pesadas, outras mais leves, começaram a sair de baixo da cama e de trás do armário. Chegaram à rua, e, finalmente à escola.
Na escola, claro está, queriam todos abrir as caixas ao mesmo tempo, mas Maria ia explicando com muita calma, que existiam regras, como se de um jogo se tratasse.

1 Só se pode abrir uma caixa de cada vez. É perigoso abrir várias ao mesmo tempo, porque existem lugares que estão zangados uns com os outros. Há mundos que se anulam e destroem, acabando algum deles por desaparecer. E seria muito triste perder-se um lugar para sempre...

2 Os grupos de viajantes nunca podem ser muito numerosos. Os lugares estão habituados a comunicar unicamente com a Maria, o Zarolho, o Óscar e o Basílio.
Por isso, podem assustar-se e as caixas fecharem-se. E depois será muito difícil tirar os viajantes lá de dentro...

3 As viagens nunca podem durar muito tempo. Os lugares ficam tristes quando as pessoas se vão embora. Têm saudades como a tia da Maria e, depois, suspiram...


In: "Os Lugares de Maria" de Margarida Botelho


sexta-feira, março 16, 2007

Para? Não!

O fenómeno produziu-se e nós dizemos que não foi uma consequência que o determinou. Essa consequência dos finalistas tem um nome menos especuloso e mais claro: a causa.
Cada causa é um fenómeno como cada fenómeno é uma causa; e, porque todos os fenómenos são causas, são, por isso mesmo, efeitos. Quer dizer:não há nada que não seja ao mesmo tempo efeito e causa (seguindo a direcção do movimento).
E a consciência e o fim, o plano superior e o
orientador do movimento universal, ficam encaixados (talvez a sangrar) nesta noção comezinha: causa e efeito...

Álvaro Cunhal


Excerto do artigo publicado no jornal Liberdade, nº 277, 27 de Janeiro de 1935

In: Álvaro Cunhal Obras escolhidas, Tomo I 1935-1942

terça-feira, março 13, 2007

Como quem...

Nem tudo cabe dentro dos meus fracos de vidro, nem das caixas de cartão colorido fechados com grossas fitas de cetim.
E gostava de lá guardar essas palavras para as tornar eternas, para mais ninguém as dizer, as escutar, para mais ninguém fazer uso delas.

Tê-las só para mim, na inveja de quem se sente dono do impossível, de quem se sente dono do seu próprio pensamento.
E solta-las de vez em quando, para percorrer longas frases, fixas, redondas, frases sonoras... Altivas... E coloca-las novamente, cada uma no seu frasco, a ecoar contra as paredes de vidro, sem consolação, sem apreciação de outros olhos que não os meus...
Como quem se julga dono do impossível, como quem se julga dono de si.


domingo, março 11, 2007

Recomeça o ciclo!


As Andorinhas chegaram à Quinta da Caneira!
Voos rasantes, endiabrados, que cumprimentam o sol e nos convidam a esboçar um sorriso.
Recomeça o ciclo!
Sejam Bem Vindas

terça-feira, março 06, 2007

Ratos de chocolate

Seis e meia, sete horas, a porta de madeira ao fundo das enormes escadas de pedra abre-se e de lá vem o encontro mais ansiado do dia... O regresso a casa do Tio Chico!
Fechados os portões da Sorefame, o Tio Chico vol
tava a casa no seu carro vermelho, sempre a brilhar e, antes de por as chaves à porta havia sempre tempo para passar pelo café mais próximo e comprar os deliciosos ratos de chocolate...
E ao primeiro ranger da pesada porta, já eu corria toda a casa procurando o melhor esconderijo, aquele de onde, instantes mais tarde sairia gritando: -A Menina está aqui!!!!!
A porta abria-se e do fundo das escadas a excl
amação era sempre igual, sempre o mesmo carinho, sempre a mesma surpresa: - Ai que horror, que andam ratos cá em casa, ai que ratinhos tão pequeninos, oh Ani cuidado que andam aqui ratos!!!!
E eu, escondida, esfregava as mãos com medo de ser encontrada mas desejosa de ser descoberta... -Ani, cuidado, olha os ratinhos... Ani? An
i?
E sempre que chegava ao cimo das escadas mesma pergunta: -Oh Binda, a Menina não está cá?
- Não Chico, a menina não está... respondia a Tia Bibi!
E era esta a deixa para saltar do meu esconderijo secreto e gritar:
-A menina está aqui!!!!!

E era logo enrolada num abraço enorme, dois beijinhos, o boné do Tio em cima da cabeça, e dois ratos de chocolate na mão: - São só para depois do jantar, agora vá, lavar as mãos e mesa!
E com uma palmada no "rabiosque" corria para a casa de banho lavar as mãos para me sentar à mesa, feita menina grande, a ouvir as conversas dos crescidos, para no final devorar os meus ratos de chocolate e o Tio Chico alisar as pratas coloridas que guardava nos livros grandes da estante da sala...


Ainda hoje alguns livros conservam as pratas coloridas dos ratos, ainda hoje conservo o gosto da surpresa diária do Tio Chico, ainda hoje...
Ele está entre nós...
Amanhã?
Não sabemos...


segunda-feira, março 05, 2007

Do meu Avô


Paussídeos por Ed. Luna de Carvalho, 1945

domingo, março 04, 2007

Brancura



É nesta infinita brancura, onde as gotas de chuva são alinhadas e provêm de uma só nuvem cromada, que mergulho no meu mar. Num mar só meu, que construo com espuma de óleos essenciais e sais perfumados, decorado com cheiros serenos e actos pacatos de quem quer estar só... na brancura... o meu mar.
E oiço, mergulhada... a minha respiração... o eco da minha respiração... do meu coração...afinado, concentrado... na sensação reconfortante de quem regula o processo osmótico pelos poros da pele.... através de torneiras de diferentes temperaturas, botões definem a intensidade da água que torneia o corpo assente... na brancura...o meu mar.

quinta-feira, março 01, 2007

Só tinha de ser com você