quarta-feira, junho 27, 2007

O Circo Chegou à Cidade - Parte II: Um Punhado de Ar Fresco!

Sei por que esperas, já tenho visto passar esses homens de mãos calejadas que vão ao teu encontro, nessa aparente despreocupação de quem tem tudo previsto, até os olhares mais luzidios.

Sei que conspiram ... Conheço essa chama que arde no peito e leva os homens por esse cais a construir o Novo Mundo.


E tu?

Bem te vejo, mãos calejadas … Imagino-as a desenhar a minha cintura ... Calejadas ... Por redes que rendilham as ruas! Das canastras de fruta meio madura! Da fábrica, apito sonoro que invade o cais às 17h e me desperta do sono diurno ... Ou será dos corpos que percorres com os dedos em noites de suores frios!


Dizem as mulheres do cais, que homens como tu não são dados a amores de poucas horas, nem a camas onde os lençóis são o ar frio….Dizem que andam na Luta, no corpo a corpo, sem navalha, só palavras.

E se te pudesse falar, agora, dizia-te que te consumia por uma braçada de flores, ou por um simples punhado de ar fresco.

segunda-feira, junho 25, 2007

Fascinação




E eu? Ainda me fascino?...

quinta-feira, junho 21, 2007

Verão



Alphonse Mucha
The Seasons
1896

domingo, junho 17, 2007

O Circo chegou à Cidade!

Não foi a primeira vez que te vi, já o fiz em surdina, à beira do velho cais baptizado pelo sangue dos que lá desaguaram, dos que por ali adivinharam o seu fim.
E quantos, ali, naquele cais, quando a maré já o reconheceu vezes sem conta, empunharam por mim punhais?
Quantos já juram o regresso, quando já me juraram de morte, quantos já mataram por mim?
Quantos?
Quantos me apertam o braço para não me ir, para não me terem como fantasma durante o tempo em que não consomem a minha carne, em que não me consomem.
Não foi a primeira vez que te vi, por esses becos, que de manhã cheiram a frutas frescas, a peixe e na noite a maresia... cheir
am a prazer, a velas acesas nas janelas vermelhas, a roupa despida rapidamente, a bocas tragadas de água ardente barata...
Parado, estavas parado à espera.
De mim? Será que esperavas por mim?
Seguras o cigarro sempre da mesma maneira, evitas olhar quem passa à tua frente...
Eu?
Eu não, que me escondo atrás dos cartazes meio rasgados que anunciam o circo, os elefantes e as amazonas chegaram à cidade...


(...)
Google S

quarta-feira, junho 13, 2007

Junho, o mês da Maçã!


Plena mulher, maçã carnal, lua quente,
espesso aroma de algas, lodo e luz pisados,
que obscura claridade se abre entre tuas colunas?
que antiga noite o homem toca com seus sentidos?

Ai, amar é uma viagem com água e com estrelas,
com ares sufocados e bruscas tempestades de farinha:
amar é um combate de relâmpagos
e dois corpos por um só mel derrotados.

Beijo a beijo percorro teu pequeno infinito,
tuas margens, teus rios, teus povoados pequenos,
e o fogo genital transformado em delícia

corre pelos ténues caminhos do sangue
até precipitar-se como um cravo nocturno,
até ser e não ser senão na sombra de um raio.

Pablo Neruda


quinta-feira, junho 07, 2007

De novo: Lugar aos Outros

De novo, a palavra escrita tornou-se falada, pela sensual e ousada voz de Luís Gaspar!

Foram-se as letras, ficam os sons...



Falar sobre mim…
Depois de algumas tentativas falhadas coloquei um espelho à minha frente…
Para ver se me revejo na imagem reflectida… à qual tento ser fiel...
Ao primeiro relance vi uma miúda que aos 7 anos planificou pormenorizadamente a sua vida futura, alterada repentinamente quando uma Senhora Professora, perante a apresentação de um trabalho da escola disse:
- Menina, ninguém adulto ganha a vida a escrever livros sobre sonhos ou o que quer se seja, faça lá outra composição sobre a sua futura profissão, mas desta vez sem essas patetices!
E escrevi... que ia ser Professora, que iria alcançar a eternidade fazendo passar os meus conhecimentos e os de outros... e que assim ia viver muito mais, ia viver para sempre!!
Tive 20 na composição e no final afirmei à dita Senhora que, afinal, se podia ganhar a vida a escrever sobre os sonhos, da mesma forma como se ganha um 20, escrevendo o que não se sente...
E assim arquitectei o meu futuro de Professora de Ciências, meio porque sim, meio porque tem de ser, arrisquei o ensino e apaixonei-me pela sensação de fazer os outros descobrirem que aprenderam!
E depois?
Depois o Presente fez de mim o que no Passado nunca pensei vir a ser o meu Futuro.
Olho agora com mais atenção, a miúda aparenta traços de mulher e andar desengonçado nos seus saltos altos amarelos impostos por quem acha que o hábito faz o monge.
Depois acontece que nem escrevo, nem ensino...
Perdi o rumo do meu futuro, mas não me perdi. Continuo a gostar de arquitectar destinos, o meu e o de outros, continuo a ensinar-me e por vezes a tentar escrever-me.

segunda-feira, junho 04, 2007

Alentejo

(...)
E a saudade é uma espera
É uma aflição
Se é Primavera
É um fim de Outono
Um tempo morno
É quase Verão
Em pleno Inverno
É um abandono
Porque não me vês
(...)


"Porque não me vês"
Fausto
Por este rio a cima

Porque não me vês como te vejo, imenso, nessa calma de quem já se cansou de esperar...