sexta-feira, agosto 31, 2007

A Fagulha

Decorria o ano de 1968 e, como de costume, lá ia eu, aos sábados, para a escola. Frequentava a quarta classe numa turma feminina e como se aproximava o exame final, tínhamos perante nós, alunas, os mapas de Portugal Continental, das Ilhas Adjacentes, Angola, Moçambique... e como uma lengalenga lá íamos repetindo numa ladainha interminável; fauna, flora, rios, relevo, cidades, caminhos de ferro...

Terminada a sessão e enquanto a minha tia –a professora- concluia os seus trabalhos, sentava-me (numa daquelas carteiras de madeira com o plano inclinado e tinteiro), desfolhava a “Fagulha” (revista da Mocidade Portuguesa) e seguia, sábado após sábado, de forma atenta o concurso nacional de desenho que esta revista tinha promovido e cujo tema “Portugal uno e indivisível” soava aos meus ouvidos como algo distante e indefinível.

Concluído o referido concurso o meu olhar perdia-se naquele primeiro prémio: um galo de Barcelos localizado em Portugal Continental, interligado a umas estatuetas africanas localizadas nas respectivas colónias... e o autor?
Um qualquer angolano, lá do cabo do mundo a ganhar um concurso com aquele desenho tão estranho!!!...
Perturbador sem dúvida! Várias vezes o meu pensamento vagueou ansioso por entre aqueles traços, de tal modo que os “guardei enigmaticamente” numa das gavetas da minha memória.

Anos passados, casada, e num primaveril sábado à tarde numa garagem da Rua do Mercado, Algueirão, entre conchas, pássaros embalsamados, ovos de avestruz e casuar, borboletas, bichos, carochas, lá estávamos nós a vasculhar no meio de livros, cartas, papeis, jornais e... desenhos. Subitamente o meu olhar fixa-se em algo que conhece bem, escancara-se a gaveta da memória e vem a esta (não uma frase batida...) mas o espanto provocado por aquele desenho. Espanto esse que agora, noutra realidade ainda permanecia, ou mesmo se agudizava perante a coincidência do autor ser agora o meu marido!!!

Coincidência decerto, mas envolvida numa ternura e num elo tão forte que a Fagulha despertou e incendiou e que ainda hoje se mantém tão aceso como há 29 anos atrás, quando nos casámos.

... E foi assim que eu com nove anos e vivendo em Sintra que conheci o meu marido David, com doze anos e vivendo no Dundo em Angola.

Texto de Ana Maria Alves, minha mãe!

segunda-feira, agosto 27, 2007

Incompetência


Talvez por incompetência,
muito por falta de vontade,
hoje não quero salvar o mundo.
Só ajudar.



Foto de David Luna de Carvalho
Praia da Carnota, Galiza

Nota de Plagio: A frase "Hoje não quero salvar o mundo,só ajudar." foi abusivamente plagiada daqui

quinta-feira, agosto 23, 2007

Aguardar

Aguardo, o minuto de descanso de quem, por não temer o cansaço, vem até mim!


2007, Quinta da Atalaia, Amora , Seixal

quarta-feira, agosto 22, 2007

Júlia

Lá de fora vem um miado...

Meloso, arrastado, incontido, um miado de quem é dono de si mesmo, mas que, nem por isso deixa de cumprimentar com uma "turra" na perna os vizinhos que passam!

Chamo-lhe Júlia!

Júlia, a minha gata de rua!

E chamo-lhe minha como todos os garotos da rua chamaram, Júlia a gata malhada da ultima Rua da Quinta!
Ainda a oiço, o miado sorridente de quem está entre as festas dos miúdos que brincam lá fora.

Júlia, a minha gata de Rua!


segunda-feira, agosto 20, 2007

(Re)Toma de Palavras: Ao som do coaxar



Existe um silêncio estranhamente tranquilo esta noite, apenas forjado pela auréola suave do quarto crescente e pelo coaxar imaginário das rãs do pântano inexistente.
Um silêncio que me incomoda, que queria interrompido, que queria quebrado, agitado.
Interrompido pelos gemidos sonoros que penetram paredes e que suscitam sussurros de inveja... de quem os queria seus.
Interrompido pelo ranger dos dentes, pelo rasgar da roupa apertada que sufoca, pelo sapatear das mãos contra a parede, como quem pede clemência perante o prazer.
Interrompido pelo gotejar do suor que desce no meu dorso, num caminho já traçado, já delimitado... e que cai... no pântano inexistente onde as moram as rãs.



quinta-feira, agosto 16, 2007


Foto de David Luna de Carvalho
Praia da Carnota, Galiza


Deus escreve direito por linhas tortas
Eu não.


domingo, agosto 12, 2007

(Re)Toma de Palavras: Hoje parei!

Hoje parei!
Tirei os sapatos e senti o chão de madeira com as pontas dos pés.
Tirei os óculos e libertei os olhos da clausura das lentes que aumentam e diminuem a realidade.
Soltei o cabelo pelos ombros e tirei os ganchos que não o deixam ser revolto.
Desapertei a roupa apertada e soltei-a pela casa fora.
Abri a janela para sentir o cheiro da tarde, das violetas que nunca mais dão flor.
Passei as mãos pelo espelho e acariciei o meu rosto num gesto particular de quem se vê.
Menti à luz da tarde e quis a noite.
Hoje parei!

terça-feira, agosto 07, 2007

Parabéns à Menina!

Todos vieram
ver a menina
ao primeiro gomo de tangerina
menina atenta
não experimenta
sem primeiro
saber do cheiro
o sabor dos lábios
gestos sábios

Fruta esquisita
menina aflita
ao primeiro gomo de tangerina
amarga e doce
como se fosse
essa hora
em que chora
e depois dobra o riso
e assim faz seu juízo

Sumo na vida
é o que eu te desejo
rumo na vida um beijo

Ah, que se lembre
sempre a menina
do primeiro gomo de tangerina
p'la vida dentro
é esse o centro
da parcela da vitamina
que a faz crescer sempre menina

A terra é grande
é pequenina
do tamanho apenas da tangerina
quem mata e morra
nunca percorre
os caminhos do que há de melhor
nesse sumo
a vida, gomo a gomo

Sumo na vida
é o que eu te desejo
rumo na vida
um beijo
um beijo

Letra e música: Sérgio Godinho


Sumo na vida
é o que eu me desejo
rumo na vida um beijo!

domingo, agosto 05, 2007

Plagio

Aviso à navegação

Esta Senhora que dá pelo nome de Laila Braga, plagia descaradamente os textos e poemas de outros!

Eu já tive a minha dose com o roubo do poema "
Um quarto para as seis!" publicado neste mesmo Blog dia 12 de Julho de 2006 e abusivamente copiado e publicado aqui no dia 15 de Julho de 2007.

Já pedi à tal Senhora o favor de retirar o meu poema do blog dela ou, no mínimo, colocar o nome rela da autora!

Eu quando roubo, digo de onde!!!! Agradeço que se faça o mesmo.

A frase" as palavras são de quem as usa, não de quem as produz" só faz sentido se houver respeito intelectual!

Fica o poema...


Um quarto para as seis!
Anda.
Acelera, trava,
põe a primeira
põe a segunda
embraiagem, acelera
trava.
Janela acima, janela abaixo
esta frio, esta calor.
Fica.
Liga o radio
muda a estação.
Põe a primeira
acelera,
segunda
trava.
Apanha o cabelo,
olha o retrovisor,
lateral.
Olha os teus olhos.
Põe a primeira
acelera.
Estás cansada?
Os olhos brilham,
olha o espelho,
canta a música que não gostas.
Acelera,
terceira,
quarta,
acelera.
Sentes o vento?
Sentes os cabelos na cara?
Olha os teus olhos
retrovisor, lateral.
Trava!
Fecha os olhos
Trinca-me.

Ridículo


Cai de novo no ridículo de não saber manipular o código simbólico que nos permite libertar o sufoco acumulado pela insuficiência de comunicação.
E sempre que esta capa negra me envolve, revejo-me em junções vulgares de rabisco que não me seduzem, mas que me acalmam.
E sempre que a folha branca não o deixa de o ser e os minutos passam como se de horas se tratassem e a folha branca multiplica indefinidamente a sua cor, da ponta seca do aparo virtual em forma de cubos negros dispostos linearmente, nada acontece, nada se transforma.

quarta-feira, agosto 01, 2007

Tira-me para dançar!

Repentinamente e sem pedir licença, amarra-me pela cintura e melosamente faz-me subir por entre a pauta articulada pelos teus passos ... pelo teu gingar... pelo roçar da tua barba mal feita no meu rosto.
E não pares por ai!

Tira-me para dançar!