Deber del poeta
Àquele que não escuta o mar nesta manhã
de sexta-feira, e encarcerado está dentro de algo,
casa, escritório, fábrica ou mulher,
ou rua ou mina ou árido calabouço...
a esse acorro eu e sem falar nem ver
Chego e abro a porta da clausura
e ao abri-la um vago burburinho ouve-se dentro,
um longo trovão desfeito encorpora-se
ao peso do planeta e da espuma,
surgem rios rumurosos do oceano,
vibra veloz no seu rosal a estrela
e o mar palpita, fenece e continua.
Assim pelo destino conduzido
devo sem descanso ouvir e conservar
o lamento marinho na minha consciência,
devo sentir a pancada violenta da água
e recolhê-la numa taça eterna
para que aonde esteja o encarcerado,
aonde sofra o castigo do Outono
esteja eu presente com uma onda errante,
circule eu através das janelas
e ao ouvir-me o olhar levante
dizendo: como chegarei eu junto do oceano?
Então sem dizer nada transmitirei
os ecos rutilantes da onda,
uma derrocada de espuma e areais,
um sussurro de sal que se afasta,
o grito cinzento da ave do litoral.
E assim, a liberdade e o mar responderão
por mim ao sombrio coração.
Plenos poderes
Neruda
Neruda
6 Comments:
Também estive pregado ao écrã, mais uma vez, vendo o filme.....
... uma ternura (a explicação de metáfora....)
Beijo
BELO
tenho um amigo natural da américa latina que me falou de neruda como sendo "O MESTRE", de tal forma que procurei conhecer um pouco mais...e de facto vale a pena conhecer e absorver tudo o que vem desse grande senhor!
É Bom Recordar Neruda...
Tenho as janelas abertas, mas só a música me acalma hoje...
Obrigado pela força. Kiss
E assim, a liberdade e o mar responderão
por mim ao sombrio coração.
hoje assim fico a espera de melhores respostas aos meus dias.
bjinhos
Chegadinha de férias, como vai isso de empregos?
O teu post a seguir a esta bela poesia de Néruda, tem a resposta adequada, a não esquecer!
Gosto do teu blog!!!
josé manangão
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