sábado, junho 17, 2006

11# Junho, Mês da Maçã

A Maçã Deslizante
(Parte I)
Hoje vou escrever aqui, directamente.
Estou só, quieta. Apenas o movimento dos dedos num teclado.
Hoje, apetece-me falar.
Apetece-me dizer o que sinto, o que valho, o que sou, quem sou.
Confesso-me a mim mesma porque em mim confio, de mim não guardo segredos.
Não preciso esconder fraquezas, usar discursos elaborados, estudados.
Apenas falar, enquanto vou escrevendo, assim, ao correr da pena.

Não te rias, pai.
Hoje estou a falar sozinha, já viste?
Sabes?
Por falar nisto, lembrei-me daquela vez...

Os dois, na sala, (ainda fumavas) e dizias-me, de cigarro entre os dedos para nunca fumar... e continuavas envolvido naquela nuvem nicótica que te servia de ópio, te fazia sair dali, e falar, falar sozinho.
De repente, uma maçã a deslizar...
Os teus olhos quedaram-se nela, um instante.
Mas voltaste para ti, envolvido pela nuvem.
... Andou outra vez!
Os teus olhos fixaram-se nela, desta vez por mais um bocado, com aquele teu ar, de sobrolho franzido.
Não! Nem um movimento.
Apenas uma maçã amarela em cima da mesa.
E eu, ali, ao teu lado absorvendo as palavras que não me dirigias...
E mais uma vez, lá foste tu para o teu mundo, este, onde hoje estou, por me apetecer, simplesmente, falar.
Fantástico! A maçã não parava de deslizar, serena, em linha muito recta, como uma verdadeira maçã...deslizante!
- Tininha!
- Tá, pai, não vou fumar.
Não te menti, acredita, naquela altura.
Estava de facto convencida que nunca iria fumar.
Desculpa estar a dizer-te isto, de cigarro entre os dedos.
Mas, naquela altura, não. Nunca iria pegar num cigarro.
Horrível, ver os teus dedos amarelecidos.
De quando em vez, pedias à "mã" que te desse um cadito de lixívia e esfregavas, tentando tirar aquela cor, que, sabes? Também agora tenho nos meus.
- Cristalina, a maçã andou!
Com o ar mais cândido deste mundo, olho matreiro de miúda de 9 anitos, desfiz-me a rir na tua cara.
- Ó pai! Só podes ser doido! - e ria.
Já estavas comigo.
Tinha-te na mão, nas minhas mãos, nestas que hoje, agora, estão a movimentar-se num teclado, que me servem de elo, entre mim e tu, por tanto me apetecer, falar.
- Filhota, tem paciência. Eu vi, querida. Aquela maçã andou mesmo!
Mas não pegavas nela...
E era por demais divertida a cena. (...)
(...CONTINUA...)
História real contada pela querida Cris