quarta-feira, setembro 27, 2006

Que Há-de Ser De Nós?

Já viajámos de ilhas em ilhas
já mordemos fruta ao relento
repartindo esperanças e mágoas
por tudo o que é vento

Já ansiámos corpos ausentes
como um rio anseia pela foz
já fizemos tanto e tão pouco
que há-de ser de nós?

Que há-de ser do mais longo beijo
que nos fez trocar de morada
dissipar-se-á como tudo em nada?

Que há de ser só nós o sabemos
pondo o fogo e a chuva na voz
repartindo ao vento pedaços
que hão-de ser de nós

Já avivámos brasas molhadas
no caudal da lágrima vã
e flutuando a lua nos trouxe
à luz da manhã

Reencontrámos lágrima e riso
démos tempo ao tempo veloz
já fizemos tanto e tão pouco
que há de ser de nós?

Que há-de ser da mais longa carta
que se abriu peito alvoraçado
devolver-se-á: endereço errado?

Já enchemos praças e ruas
já invocámos dias mais justos
e as estátuas foram de carne
e de vidro os bustos

Já cantámos tantos presságios
pondo o fogo e a chuva na voz
já fizemos tanto e tão pouco
que há-de ser de nós?

Que há-de ser da longa batalha
que nos fez partir à aventura
que será que foi
quanto é quanto dura

Que há-de ser só nós o sabemos
pondo o fogo e a chuva na voz
repartindo ao vento pedaços
que hão-de ser de nós


Sérgio Godinho

4 Comments:

At quarta-feira, setembro 27, 2006 4:36:00 da tarde, Blogger TG said...

Há-de ser o que nós quisermos...

 
At quarta-feira, setembro 27, 2006 7:29:00 da tarde, Blogger António Almeida said...

do pó vieste, ao pó voltarás

 
At quinta-feira, setembro 28, 2006 4:09:00 da manhã, Blogger Estranha pessoa esta said...

Se soubessemos isso seria a mesma coisa?

 
At sexta-feira, setembro 29, 2006 10:08:00 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Já não ouço este disco á muito tempo, mas a música é lindíssima. Não é cantada em dueto com o Ivan Lins?

 

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