terça-feira, março 20, 2007

Os lugares de Maria

(...)
Como tinha o Espaço e o Tempo arrumados dentro de caixas, era fácil deslocar-se com os seus mundos.
Foi assim que as caixas, umas maiores outras mais pequenas umas mais pesadas, outras mais leves, começaram a sair de baixo da cama e de trás do armário. Chegaram à rua, e, finalmente à escola.
Na escola, claro está, queriam todos abrir as caixas ao mesmo tempo, mas Maria ia explicando com muita calma, que existiam regras, como se de um jogo se tratasse.

1 Só se pode abrir uma caixa de cada vez. É perigoso abrir várias ao mesmo tempo, porque existem lugares que estão zangados uns com os outros. Há mundos que se anulam e destroem, acabando algum deles por desaparecer. E seria muito triste perder-se um lugar para sempre...

2 Os grupos de viajantes nunca podem ser muito numerosos. Os lugares estão habituados a comunicar unicamente com a Maria, o Zarolho, o Óscar e o Basílio.
Por isso, podem assustar-se e as caixas fecharem-se. E depois será muito difícil tirar os viajantes lá de dentro...

3 As viagens nunca podem durar muito tempo. Os lugares ficam tristes quando as pessoas se vão embora. Têm saudades como a tia da Maria e, depois, suspiram...


In: "Os Lugares de Maria" de Margarida Botelho


9 Comments:

At terça-feira, março 20, 2007 4:45:00 da tarde, Blogger João Silva said...

Simplesmente bonito ;) ...embora cruelmente verdadeiro no aspecto em que se quisermos viver tudo de uma vez ao abrir todos as nossas "caixas" ao mesmo tempo, o seu conteúdo escapanos por entre os dedos.
Será que temos mesmo de racionalizar a felicidade, e as coisas boas para as podermos saborear???

 
At terça-feira, março 20, 2007 4:46:00 da tarde, Blogger João Silva said...

no lugar de racionalizar, talvez ficasse melhor "racionar"... enfim, acho que da para perceber" :)

 
At terça-feira, março 20, 2007 7:02:00 da tarde, Blogger as velas ardem ate ao fim said...

Muito bonito.

Saudades, daqueles que estão longe ou ja partiram, e que nos roi a todos.

Hoje tenho saudades de mim.

bjinhos M

 
At terça-feira, março 20, 2007 11:06:00 da tarde, Blogger António Almeida said...

não conhecia...
os desenhos são fantásticos.

 
At quarta-feira, março 21, 2007 2:12:00 da manhã, Blogger Vicktor Reis said...

Doce Manhã de Junho

Suspiro...

Suspiro pela falta que me fazem as grandes referências da minha vida... meus pais! Ainda hoje penso que se estivessem entre nós me poderiam dar respostas a algumas das minhas aflições.

Partiram, mas deixaram-me algumas caixinhas mágicas.

Dessas "caixinhas mágicas" que este texto maravilhoso que connosco partilhas refere, guardo unicamente uma... o tempo foi passando e de cada caixinha que eu abria fugia o tempo e o espaço que noutra se iam alojar.

Tenho uma só caixinha, mas nela estão contidos muito espaço e muito tempo. Mas esta, claro, não vou abrir...

Fui entregá-la, como prenda, ao "meu" mar. Ele em troca ofereceu-me a capacidade de sorrir para a "mais bela Ninfa do Tejo". Que maior felicidade poderia eu desejar?


Té Já! Beijinho.

 
At quarta-feira, março 21, 2007 2:15:00 da manhã, Blogger Vicktor Reis said...

A "manhã" que é "maçã", agora que a Primavera já chegou e que os druidas se reunem para festejar o Equinócio da Primavera...

Té Já

 
At quarta-feira, março 21, 2007 6:03:00 da tarde, Blogger as velas ardem ate ao fim said...

Vim só oferecer um poema a uma amiga.

Para um amigo tenho sempre um relógio


Para um amigo tenho sempre um relógio
esquecido em qualquer fundo de algibeira.
Mas esse relógio não marca o tempo inútil.
São restos de tabaco e de ternura rápida.
É um arco-íris de sombra, quente e trémulo.
É um copo de vinho com o meu sangue e o sol.

António Ramos Rosa

bjinho

 
At quarta-feira, março 21, 2007 9:22:00 da tarde, Blogger Maria said...

Nem sabes como gostei de ler este texto...
... e como veste tão bem a minha pele o último parágrafo...

Beijo

 
At quinta-feira, março 22, 2007 7:40:00 da tarde, Blogger K'os said...

gostei do que li
e deixou-me a pensar
...
nas vigens que tem regresso e nas que não tem
nas que duram muito nas que duram pouco
nos que ficam e nos que vão

...

:)

 

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