domingo, maio 20, 2007

O Alentejo a viu nascer


Chamava-se Catarina
O Alentejo a viu nascer
Serranas viram-na em vida
Baleizão a viu morrer


Ceifeiras na manhã fria
Flores na campa lhe vão pôr
Ficou vermelha a campina
Do sangue que então brotou

Acalma o furor campina

Que o teu pranto não findou
Quem viu morrer Catarina
Não perdoa a quem matou

Aquela pomba tão branca

Todos a querem p'ra si
Ó Alentejo queimado
Ninguém se lembra de ti

Aquela andorinha negra

Bate as asas p'ra voar
Ó Alentejo esquecido
Inda um dia hás-de cantar

Cantar Alentejano
José Afonso


5 Comments:

At segunda-feira, maio 21, 2007 7:38:00 da tarde, Blogger as velas ardem ate ao fim said...

Adoro o Alentejo e as suas gentes!

Pena que seja tão esquecido como a nossa Catarina e o nosso Zeca.

bjino enorme M

 
At segunda-feira, maio 21, 2007 10:03:00 da tarde, Blogger António Almeida said...

Catarina,
Menina que brinca no trigo loiro
Desse Alentejo amado
Explorado,
Tem uma história a contar a gente.
Ainda criança, foi ceifeira,
Rosto molhado de suor e lágrimas
Chora a sua sorte e a dos seus iguais.
Chora o povo alentejano,
Amarrado como escravo
A seu amo!
E das lágrimas nasce a raiva
A revolta, a dor,
E foi com esta no peito
Que pariu os filhos
Feitos de amor!
E é pelos seus filhos
E pelos filhos de outras mulheres do Alentejo
Que lhe nasce nas mãos um desejo!
Já que tem que toda a vida trabalhar,
Vai lutar por um salário que lhe garanta o pão
Por uma razão.
Pensa nisto enquanto ceifa o trigo
Debaixo de um sol quente
Ao desabrigo!
As mulheres seguem-na, fieis
Juntam-se, e a união faz anéis.
E uma nova era feita de querer
Começa a nascer!
E um dia pela manhã,
Elas vão para o campo
Dispostas a dizer não.
E numa greve que é sua,
Saltam para a rua!
Nos olhos Catarina não leva medo
Mas vontade.
E diz:
Antes a morte liberta
Que viver nesta sociedade.
E ele vem
Traz uma arma na mão.
Catarina não o teme
Fica frente a ele, de pé,
Ele dispara, ela cai.
E no trigo dourado fica uma mancha vermelha
Que não sai!
Nos corações nasce o seu nome
Imortal.
Catarina Eufémia,
O orgulho das ceifeiras de Portugal.


(Michael Pereira)

 
At quarta-feira, maio 23, 2007 12:19:00 da manhã, Blogger Maria said...

Também homenageei Catarina.
Deixo-te este:


RETRATO DE CATARINA EUFÉMIA
José Carlos Ary dos Santos


Da medonha saudade da medusa
que medeia entre nós e o passado
dessa palavra polvo da recusa
de um povo desgraçado.

Da palavra saudade a mais bonita
a mais prenha de pranto a mais novelo
da língua portuguesa fiz a fita encarnada
que ponho no cabelo.

Trança de trigo roxo
Catarina morrendo alpendurada
do alto de uma foice.
Soror Saudade Viva assassinada
pelas balas do sol
na culatra da noite.

Meu amor. Minha espiga. Meu herói
Meu homem. Meu rapaz. Minha mulher
de corpo inteiro como ninguém foi
de pedra e alma como ninguém quer.


Um beijo

 
At sexta-feira, maio 25, 2007 12:12:00 da manhã, Anonymous Anónimo said...

O meu pai contava histórias sobre ela...

Mas tenho k desabafar...

Eu descobri que tenho andado enganado estes anos todos. Descobri há já trinta e tal anos k vivo no deserto...

Isto sim... é dramático...

Beijokinhas endiabradas

 
At domingo, dezembro 16, 2007 4:11:00 da tarde, Blogger Edite said...

A semana passada fui à terra do meu Cometa: Baleizão!
Comentei com o meu estimado colega TG a minha viagem ao Alentejo...
Estive nos locais e marcos da aldeia, no tanque público, no campo onde Catarina foi assassinada e onde está um memorial, no largo com o seu nome.
Alentejo, esse paraíso de planícies vastas!

 

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