A Fagulha
Decorria o ano de 1968 e, como de costume, lá ia eu, aos sábados, para a escola. Frequentava a quarta classe numa turma feminina e como se aproximava o exame final, tínhamos perante nós, alunas, os mapas de Portugal Continental, das Ilhas Adjacentes, Angola, Moçambique... e como uma lengalenga lá íamos repetindo numa ladainha interminável; fauna, flora, rios, relevo, cidades, caminhos de ferro...
Terminada a sessão e enquanto a minha tia –a professora- concluia os seus trabalhos, sentava-me (numa daquelas carteiras de madeira com o plano inclinado e tinteiro), desfolhava a “Fagulha” (revista da Mocidade Portuguesa) e seguia, sábado após sábado, de forma atenta o concurso nacional de desenho que esta revista tinha promovido e cujo tema “Portugal uno e indivisível” soava aos meus ouvidos como algo distante e indefinível.
Concluído o referido concurso o meu olhar perdia-se naquele primeiro prémio: um galo de Barcelos localizado em Portugal Continental, interligado a umas estatuetas africanas localizadas nas respectivas colónias... e o autor?
Um qualquer angolano, lá do cabo do mundo a ganhar um concurso com aquele desenho tão estranho!!!...
Perturbador sem dúvida! Várias vezes o meu pensamento vagueou ansioso por entre aqueles traços, de tal modo que os “guardei enigmaticamente” numa das gavetas da minha memória.
Anos passados, casada, e num primaveril sábado à tarde numa garagem da Rua do Mercado, Algueirão, entre conchas, pássaros embalsamados, ovos de avestruz e casuar, borboletas, bichos, carochas, lá estávamos nós a vasculhar no meio de livros, cartas, papeis, jornais e... desenhos. Subitamente o meu olhar fixa-se em algo que conhece bem, escancara-se a gaveta da memória e vem a esta (não uma frase batida...) mas o espanto provocado por aquele desenho. Espanto esse que agora, noutra realidade ainda permanecia, ou mesmo se agudizava perante a coincidência do autor ser agora o meu marido!!!
Coincidência decerto, mas envolvida numa ternura e num elo tão forte que a Fagulha despertou e incendiou e que ainda hoje se mantém tão aceso como há 29 anos atrás, quando nos casámos.
... E foi assim que eu com nove anos e vivendo em Sintra que conheci o meu marido David, com doze anos e vivendo no Dundo em Angola.
Terminada a sessão e enquanto a minha tia –a professora- concluia os seus trabalhos, sentava-me (numa daquelas carteiras de madeira com o plano inclinado e tinteiro), desfolhava a “Fagulha” (revista da Mocidade Portuguesa) e seguia, sábado após sábado, de forma atenta o concurso nacional de desenho que esta revista tinha promovido e cujo tema “Portugal uno e indivisível” soava aos meus ouvidos como algo distante e indefinível.
Concluído o referido concurso o meu olhar perdia-se naquele primeiro prémio: um galo de Barcelos localizado em Portugal Continental, interligado a umas estatuetas africanas localizadas nas respectivas colónias... e o autor?
Um qualquer angolano, lá do cabo do mundo a ganhar um concurso com aquele desenho tão estranho!!!...
Perturbador sem dúvida! Várias vezes o meu pensamento vagueou ansioso por entre aqueles traços, de tal modo que os “guardei enigmaticamente” numa das gavetas da minha memória.
Anos passados, casada, e num primaveril sábado à tarde numa garagem da Rua do Mercado, Algueirão, entre conchas, pássaros embalsamados, ovos de avestruz e casuar, borboletas, bichos, carochas, lá estávamos nós a vasculhar no meio de livros, cartas, papeis, jornais e... desenhos. Subitamente o meu olhar fixa-se em algo que conhece bem, escancara-se a gaveta da memória e vem a esta (não uma frase batida...) mas o espanto provocado por aquele desenho. Espanto esse que agora, noutra realidade ainda permanecia, ou mesmo se agudizava perante a coincidência do autor ser agora o meu marido!!!
Coincidência decerto, mas envolvida numa ternura e num elo tão forte que a Fagulha despertou e incendiou e que ainda hoje se mantém tão aceso como há 29 anos atrás, quando nos casámos.
... E foi assim que eu com nove anos e vivendo em Sintra que conheci o meu marido David, com doze anos e vivendo no Dundo em Angola.
Texto de Ana Maria Alves, minha mãe!
8 Comments:
Não há concidencias!!!
Muito bonito o texto!
Que história espectacular!
Que estória bonita, a da tua mãe....
Beijo, M.
Na verdade, os encantos da vida. Profundamente comovente, o encontro deles, antes de o ser. Só posso mandar um abraço bem apertado, a esses seres que te deram a vida, unidos num arco sem tempo nem lugar. Há ainda as recordações da "escola", da lenga-lenga de rios e montanhas, da "Fagulha", que tão bem me lembro...
Beijinhos
linda a estoria da tua mãe.o amor dos teus pais.e tu.
bjinhos
Dsc lá mas quem é este estupido aqui de cima??
Será que não percebe que não tem graça..
bjs M
arrepiante coincidencia :D
Era! Lembras a história do jeep cor de laranja? O colégio dos 3 salgueiros? A casa sobre a falésia? Tenho pena de não ter guardado um único exemplar da fagulha...
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