Avental Branco
É um Avental branco, enorme este Avental.
De tantas vezes usado, de tantos laços que deu à volta daquela cintura, nunca deixou de ser branco e raramente lhe vi uma nódoa.
É o Avental branco da Avó, que emprega em dia de azáfama, nos dias em que a mesa está sempre posta e a porta de casa sempre aberta, o Avental que a protege e que fica entre nós quando nos abraçamos.
Ambas sabemos, sem nunca o termos denunciado, que a relação Avó/Neta se resume a pouco, a laços de sangue, a abraços de circunstância, ao laço que me pede para apertar quando suas mãos preparam os enlaces das filhoses. Ambas sabemos que a vida foi assim, que os meus avós são outros e os seus netos alguns. Mas nada disso impede o abraço carinhoso, sincero, quase cúmplice na espontaneidade, na sua anuidade, no qual posso observar, sentir o seu Avental branco.
Mangas para cima, Libra de Ouro a balançar no peito, o cabelo longo apanhado no eterno "carrapito", mãos na massa, e eu, que apenas obedeço à voz cantarolante, como sempre fiz. Mais açúcar, mais canela, parto os ovos, não falo alto enquanto a massa leveda, fritas a sair, a abóbora menina, arroz doce com limão, leite de creme com açúcar queimado e o Avental, sempre apertado, sempre branco...
Desta vez, arrumado atrás da porta, o Avental não acompanha à mesa, não prova os doces que foram a sua tentação. Fica assim, como se nada tivesse acontecido, o Avental branco da minha Avó.
